
Na busca pelo autoconhecimento e a fé, a exposição Introspectos apresenta as obras de Adriana Conti e Janice Perez. Combinando duas perspectivas únicas que refletem interpretações distintas sobre os caminhos da memória afetiva e religiosa, a mostra conta com obras que reúnem beleza e cor.
Se por um lado nos brindamos com a narrativa da emoção e da memória dos espaços imaginários da pintura de Adriana, por outro nos deparamos com a sutileza das esculturas simbólicas de Janice, que ressaltam a beleza da madeira alinhada ao poder das preciosas gemas que a artista coleciona.
Introspectos exibe a externalização das crenças, anseios e desejos das artistas, que apesar de suas manifestações tão diferentes, se utilizam da riqueza de seu trabalho para se conectar às suas emoções subliminares e à sua espiritualidade.
Adriana Conti
[PINTURAS]

A amplitude que devolve o chão
Adriana Conti Melo trabalha com a ilusão do real, as cores, ao mesmo tempo que são belas e inusitadas, podem formar labirintos ou criar lugares próprios. Os restos de tintas deixados da camada anterior representam a memória dos percursos, cada um de nós olha para as pinturas com o próprio repertório, cada um de nós interpreta a imperfeição das perspectivas de acordo com suas vivências. Na nova fase a artista eliminou o chão de suas pinturas, impactada por uma descoberta na sua vida pessoal, colocando os elementos da obra num novo ângulo. É emblemático que a primeira exposição aconteça em numa Balneário Camboriú que resgata exatamente esse chão em suas praias, aumentando a faixa de areia. A dragagem da vida real é uma camada ou faixa de outra cor nas telas, mas outros elementos característicos da trajetória de Conti Melo estão presentes, as cores preenchem um jogo, ora menores e múltiplas, ora maiores e contíguas, sem uma certeza, como a vida. As escadas possibilitam os encontros e os deslocamentos, na obra, e fora dela, nada é estanque, há sempre uma saída, no mínimo a necessidade de reconstrução. A partir de que tom? Saindo do concreto ou do sonho? Ah, a vastidão do nosso rumo!
Janice Perez
[ESCULTURAS]

O trabalho da mineira Janice Perez retrata a fé Iorubá em sua expressão mais brasileira, conhecida como Umbanda. É um tributo às religiões de matriz africana que, ao extrapolarem os limites da percepção imaterial do mundo espiritual, ganham formas pelas suas mãos que esculpem símbolos e signos dos Orixás. Com ferramentas que ela mesma adapta dos processos de carpintaria, ofício estabelecido na região desde o ápice do Barroco Mineiro no século XVIII, Janice imbui devoção em cada peça que manipula, para fazer jus à significância que seu trabalho conota: amuletos de poder; joias que corporificam os arquétipos, dons, poderes e ferramentas popularmente conhecidas no panteão Iorubá. Há uma preciosidade peculiar na escolha que ela faz de madeiras nobres e raras, cautelosamente encontradas em antigas fazendas e demolições, e que em suas mãos se liquefazem. Transformando-as em berçários para receber as preciosas gemas que coleciona, Janice assegura que a combinação dos elementos selecionados em cada artefato representa e corresponde os Orixás que intitulam as obras.
Seu trabalho se conecta com as noções de fé e espiritualidade, jóia e amuleto, religiosidade e ancestralidade.